Pesados e frios, blocos desvit

Pesados e frios, blocos desvitalizados caem pesados e frios. Passam a linha da gravidade, esvaem-se perante o olhar. A luz do sol não chega aos corações daqueles que observam impávidos sem comentar, mas sem calar. Um grito interior sufoca o falar, sufoca o olhar, mas não a sensação, o tremor, o sismo que percorre o corpo e paralisa. A vida esvai-se, e estáticos estão os observadores, impotentes, incapazes, ignorantes. Ignoram o que é o silêncio. Vão sendo consumidos e mastigados e cuspidos e sugados, e consumidos e mastigados e cuspidos e consumidos e mastigados e cuspidos, e consumidos e mastigados e cuspidos, consumidos, consumidos, consumidos, consumidos, consumidos, consumidos, consumidos, consumidos. E matam enquanto morrem, e sofrem enquanto morrem, e riem enquanto morrem, e odeiam enquanto morrem, e amam, e esvaziam-se, e esvaziam-se, esvaziam-se, esvaziam-se, enquanto morrem. Pensam amar moribundos sem se aperceberem que estão moribundos, arrastando-se num mundo de morte e de dor, de morte e de dor, de falsos risos, falsas esperanças, falsas expectativas – um mundo de falsa vida.
Doença e sangue e sexo e merda e fome e falta e falta e segue, segue num suspiro final, numa sorte fatal, fetal, fecal. E assim passou e vai passando, vai arrastando até ao desconhecido certo. Desconhecido conhecido e certo. Só o caminho é incerto.